Casagrande e - a coragem de expor – seus demônios

Foi lançado pela editora Globo Livros, em abril deste ano, o livro Casagrande e seus demônios, uma autobiografia em parceria com Gilvan Ribeiro, que narra a vida do ex-jogador de futebol e agora comentarista Walter Casagrande Junior.

Confesso que a escolha do livro se deu meramente por ter sido um presente dado a meu pai, que acabou me emprestando-o. Folhear as páginas foi, porém, um grande deleite e surpresa.

Entre as narrativas de passagens de sua vida desde sua chegada ao clube de coração, Corinthians, passando pela sua vida pessoal e confrontos inevitáveis com dirigentes do time e com a lei - dada a sua personalidade forte, traço marcante presente em toda a narrativa -, podemos perceber o drama que o acompanha desde sua juventude e contra o qual luta até hoje: a dependência química.

Poderia ser outro livro piegas, clichê, bem ao estilo filme sobre ídolos do rock – gênero musical que Casagrande aprecia – onde tudo começa com festa, chega ao apogeu e depois entra em declínio, com os personagens no fundo do poço, recuperando-se plenamente das drogas, olhando o passado glamouroso que ficou para trás. Mas, ao invés disso, nos deparamos com um personagem real e sem medo de abrir sua vida, ciente das dificuldades que o universo do vício arrasta consigo. A cada página, é possível perceber, entremeadas às passagens da vida do ex-jogador, um homem de pulso e ao mesmo tempo frágil, que tem lutado de maneira insistente, seguindo a máxima “só por hoje”, contra a dependência química.

O livro acaba, mas a vontade que fica é de acompanhá-lo dia após dia, partilhando de suas angústias e de seus revezes na luta pela recuperação. Aqui há um ponto importante: a recuperação da dependência não é estática, um fato em si, é um processo. Através de seu livro, é possível perceber a dimensão do problema e também compreender porque muitos adictos não conseguem ter a mesma sorte e recaem no mundo das drogas, chegando invariavelmente à morte. 

Fora isso, um prato cheio para os torcedores do time do coração de Casagrande, onde é possível ler passagens curiosas sobre o time e também saber um pouco mais sobre a "Democracia Corintiana", que além de promover mudanças significativas no meio futebolístico, também teve participação indireta, porém significativa, no movimento de redemocratização do país.

Creio que o pouco que foi falado sobre o livro não é suficiente para descrevê-lo em todas as suas particularidades. O que se pode dizer, contudo, é que se trata de uma narrativa leve, porém contundente, capaz de despertar a reflexão para este sério problema existente em nosso meio, o da dependência química, presente em todas as camadas da população. Além disso, vale como aquisição de conhecimento sobre a história de um grande jogador, aclamado e admirado pelo seu clube e pela sua trajetória de vida, que prossegue perseverante. 

O problema de Casagrande é o de muitos anônimos e famosos. Todos os dias, há, em cada esquina, pessoas lutando contra os seus demônios – muitas vezes a ansiedade, a depressão e outros problemas correlatos fazem o dependente mergulhar de cabeça no mundo das drogas. O fato de Casagrande ter escrito um livro não o faz melhor do que todos estes, mas a coragem de expor os seus demônios é o que o faz, no mínimo, um exemplo a ser seguido. Afinal, procurar ajuda ou declarar publicamente um problema sério, um drama pessoal, é um ato corajoso e muitas vezes, necessário. 

A carreira de Casagrande nos campos encerrou-se – atualmente, conforme já citado, o ex-jogador é comentarista de futebol na rede Globo. Mas trazer à tona, por meio de sua autobiografia, um problema tão grave e tão atual, foi sem dúvida, um gol de placa.

Sobre a Autora:
Núbia Camilo é professora por formação, cantora por hobby, jornalista freelancer e escritora por paixão. Mas, o que gosta mesmo é de pensar sobre a vida e de uma boa conversa.

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