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Mostrando postagens de setembro, 2024

O começo do fim

 O sol brilha com uma intensidade estranha, ensangüentado como uma lâmina afiada que corta o horizonte. A fumaça pinta o céu em tons acinzentados, e as nuvens, antes algodoadas, se foram, substituídas por uma cortina nefasta que se espalha assustadoramente pelo ar. Elas, que antes traziam promessas de chuva, agora se movem como fantasmas fugidios, carregando um peso que nem a água sabe mais aliviar. O vento, que outrora sussurrava histórias do oceano, tornou-se uma lufada rude, seca, carregando consigo o perfume amargo de terras rachadas, de florestas que já não respiram. As árvores, outrora orgulhosas e imponentes, agora se inclinam cansadas, como velhos que perderam as forças. Seus galhos ressecados estendem-se como mãos suplicantes ao céu, pedindo chuva, pedindo alívio, mas só encontram cinzas. O verde parece um devaneio distante. Onde os rios antes corriam livres, a terra agora geme, sedenta por gotas que talvez nunca mais venham. Nós? Nós continuamos a caminhar, pisando em estrada

Ignorados e ignorantes

Neste tabuleiro de xadrez social, encontramos peças tão distintas quanto desconexas: os ignorados e os ignorantes. Os primeiros, desprivilegiados, desamparados e freqüentemente negligenciados, vagueiam pelas sombras da nossa sociedade, esperando por um olhar de reconhecimento que raramente chega. Os últimos, blindados pela própria insensibilidade, trancam as portas da percepção para qualquer coisa que ameace sua confortável visão de mundo. Os ignorados carregam consigo as cicatrizes das batalhas diárias contra a invisibilidade social. São as crianças que o sistema educacional falha em alcançar; os trabalhadores que sustentam pilares invisíveis da economia sem o mínimo reconhecimento; as minorias étnicas e raciais que enfrentam discriminação contínua e suas histórias desvalorizadas; as pessoas em situação de rua que são geralmente vistas como incômodo, não como indivíduos necessitados de apoio; moradores de favelas e comunidades de baixa renda que lutam contra expectativas limitadas e e

Sobrevivente

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Já fui bonito. Não me refiro apenas ao reflexo no espelho, mas ao jeito que eu encarava o mundo, com olhos brilhantes e coração leve. Já fui confiante, acreditava que o caminho à frente era sempre claro, que as respostas estavam ao alcance de uma busca sincera. Já fui guerreiro, acreditando que era necessário lutar por tudo, até pela razão. Hoje, aprendi que a paz é uma batalha que se vence com o silêncio. Já fui alguém que tinha certeza de tudo; agora sou alguém que acolhe a dúvida como companheira constante. Já fui sonhador e idealista, criando castelos de ideias, acreditando que todos os objetivos, uma vez estabelecidos, eram suficientes para me definir. Agora, entendo que o valor da vida não está nas metas alcançadas, mas no percurso trilhado, nos tropeços e nas surpresas. Já fui herói da minha própria história, e também o vilão, em diferentes capítulos. Já me vesti de verdades absolutas, que depois troquei por dúvidas inquietantes. Sobrevivi a mim mesmo, aos meus ideais surreais,