Sobrevivente
Já fui bonito.
Não me refiro apenas ao reflexo no espelho, mas ao jeito que eu encarava o mundo, com olhos brilhantes e coração leve. Já fui confiante, acreditava que o caminho à frente era sempre claro, que as respostas estavam ao alcance de uma busca sincera.
Já fui guerreiro, acreditando que era necessário lutar por tudo, até pela razão. Hoje, aprendi que a paz é uma batalha que se vence com o silêncio. Já fui alguém que tinha certeza de tudo; agora sou alguém que acolhe a dúvida como companheira constante.
Já fui sonhador e idealista, criando castelos de ideias, acreditando que todos os objetivos, uma vez estabelecidos, eram suficientes para me definir. Agora, entendo que o valor da vida não está nas metas alcançadas, mas no percurso trilhado, nos tropeços e nas surpresas.
Já fui herói da minha própria história, e também o vilão, em diferentes capítulos. Já me vesti de verdades absolutas, que depois troquei por dúvidas inquietantes. Sobrevivi a mim mesmo, aos meus ideais surreais, às minhas certezas desfeitas, e às minhas convicções paradoxais.
Hoje, sou apenas um sobrevivente das muitas versões de mim que ficaram pelo caminho, carregando em cada ruga e cicatriz as marcas do que já fui. E, embora os anos tenham levado a beleza superficial e fugaz, trouxeram algo mais profundo e duradouro: a aceitação e compreensão de que sobreviver é um ato de constante renascimento.
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