Secos&Molhados: o quarentão ultra-jovem

Há quarenta anos, surgia no cenário brasileiro um grupo musical que deu o que falar.

Alguém já ouviu a respeito do grupo Secos&Molhados?

Provavelmente os mais jovens, ou ainda os que não curtem muito música brasileira, não saiba muito o quê o banda significou para o cenário musical brasileiro.

Secos&Molhados foi um conjunto de música liderado por Ney Matogrosso, que surgiu no começo da década de 70. Um detalhe curioso é que, até a primeira aparição em público do grupo, pouca gente era capaz de saber se quem cantava as músicas era um homem ou uma mulher. Na realidade, tudo apontava para uma voz feminina; afinal, em plena época do vozeirão de Roberto Carlos e outros graves como Moacyr Franco, ainda nas paradas, quem poderia supor que um exemplar do sexo masculino chegaria a alcançar tão sublimes agudos.

Se hoje em dia, Secos&Molhados não significa mais nada além de um antigo termo que designava armazéns, fato é que, se o grupo acabou, ao menos Ney Matogrosso chegou para ficar, e seu legado se estende para as novas gerações.

Vale lembrar que, à época do lançamento do LP, o Brasil estava em plena efervescência musical. Influenciados pelo período pós-Tropicália e pelas bandas estrangeiras e cultura glam rock, a banda veio se configurar como precursora do rock nacional moderno, tendo como inspiradores do imaginário coletivo a onda glitter que se mostrava sem pudor nos rosto de homens e mulheres – quem já não ouviu falar de Ziggy Stardust, alter ego de Dawid Bowie, com seu impetuoso álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars? – completando a atmosfera de androginia predominante no cenário musical internacional.

A reunião desses e de outros elementos fez com que o sucesso de Secos&Molhados fosse imediato. O primeiro show do grupo reuniu mais de 20 mil pessoas que vieram ao delírio com a mistura de rock, linguagem teatral – o grupo lembrava, pela forte maquiagem e trejeitos, o grupo Dzi Croquettes, atuante nos palcos da época – folclore e influências literárias. Sem dúvida alguma, algo inovador e extraordinário para a época.

Por essas e outras razões, Secos&Molhados é uma banda digna de respeito e de audição. Quem já é fã de Ney Matogrosso nos palcos hoje em dia – já com bem menos maquiagem e com figurinos mais comedidos, sem deixar contudo de ostentar a postura e a voz arrojadas que o levaram à fama – com certeza há de encontrar no álbum “Quarentão” um bom motivo para ficar feliz.



Sobre a Autora:
Núbia Camilo é professora por formação, cantora por hobby, jornalista freelancer e escritora por paixão. Mas, o que gosta mesmo é de pensar sobre a vida e de uma boa conversa.

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