A primeira e última vez de um certo cinema brasileiro
Avenida Ipiranga, 974. Em 19 de Julho de 1961 às
13:40h acontecia a primeira sessão de “Eu, Pecador” em um dos
maiores e principais cinemas do Centro de São Paulo. Palco de
enormes estreias como “Ben Hur”, “Terra em Transe” e
“Cleópatra” (este último com direito a uma première em 1963),
o Cine Windsor marcou a memória de cinéfilos de toda a capital.
Em 1981, inclusive, o Windsor recebeu os mais de 4
milhões de espectadores de “Coisas Eróticas”, primeiro filme
brasileiro com cenas de sexo explícito. A família Luccas,
proprietários também do Cine Dom José (em atividade até hoje),
trouxeram para suas salas tecnologia, luxo e qualidade que duraria
até hoje, não fosse a invasão dos complexos de Shopping.
Com a
queda de publico, pouco a pouco, as majestosas e luxuosas salas de
cinema de rua foram sendo vendidas, demolidas, alugadas para outros
fins e as que continuaram optaram por passar filmes marginais, em sua
maioria pornografia, para manter suas portas abertas.
Em 7 de Julho de 2012, o Cine Windsor exibiu
novamente “Coisas Eróticas” seguido pelo documentário “A
Primeira Vez do Cinema Brasileiro”, que foram discutidos após a
sessão entre os poucos espectadores. Após o final, Giscard e seu
pai Francisco Luccas fecharam as portas do saudoso Cinema uma última
vez. Poucos dias depois, a majestosa sala com poltronas de luxo e,
como dizia ainda um aviso na porta: “a melhor projeção da
cidade”, foi palco de um último espetáculo: poltronas
retiradas, tela aberta para a entrada de carros e demolição total
para a construção de um estacionamento.
Hoje, a pipoca deu lugar a óleo e gasolina e os
veículos estacionados encaram onde uma vez já estiveram projetados
Elizabeth Taylor, Charlton Heston e Zaíra Bueno.
Sobre o Autor:
Torugo (de Victor Hugo) é roteirista, editor de vídeo, futuro cineasta e louco. Trabalho os últimos dois anos de ensino médio para sair do interior de São Paulo e fazer faculdade de Cinema na capital (o que desde criança dizia que ia fazer para seus pais). Escreve desde que sua curta memória se lembra. Nas horas vagas não sabe o que fazer, e então trabalha mais um pouco.