Você é mesmo tão sociável quanto diz a sua rede social?

Meus leitores têm me perguntado porque tenho passado tanto tempo sem escrever ou publicar algo no blog.

Hoje em dia, todo mundo sabe o quão essencial se torna estar conectado às redes sociais, trazendo ideias, debatendo assuntos. Ficar de fora, sem postar nada no Face, sem tuitar, sem “blogar”, parece o oitavo pecado capital no mundo moderno. Praticamente um atestado de alienação.

“Todo mundo sabe o quão essencial se torna estar conectado...”. Essa frase clichê reverbera nos meus pensamentos já faz algum tempo, mas o que me fez realmente parar todo esse movimento – ou o excessivo movimento – nas redes sociais foi este vídeo:
 
 
Se você tem preguiça, não precisa assistir, vou adiantar o assunto pra você: O vídeo trata da questão do uso que fazemos das redes sociais e o quanto elas nos tornam realmente seres “sociais” (não vou contar a historinha, senão perde a graça. Então, aproveita que você adora ficar vendo vídeos no YouTube e, quando acabar de ler esse texto, dá uma espiadinha até o final). Assim, conforme vai desenrolando o vídeo, vamos percebendo o quanto as redes sociais nos conectam à tecnologia pseudo-integradora e nos desconectam do mundo lá fora.  

O que poderia ser uma ferramenta através da qual facilitamos marcar aquela happy hour no fim do expediente com os amigos ou um passeio no parque numa tarde de domingo, torna-se muitas vezes um desserviço à socialização. Longe de mim criticar as redes como um todo, pois quantas famílias conectam-se através do Facebook, quantos pais e filhos podem comunicar-se durante o dia todo através do WhatsApp e quantos amigos distantes podem ser lembrados carinhosamente dia após dia através das redes sociais? Logicamente, tudo tem o seu lado bom.

Mas convido você caro leitor, a fazer uma continha simples – ainda que odeie matemática e internet seja lugar de respostas rápidas e não de elucubrações. Aproveita que você está com várias janelas abertas nesse momento – lendo esse texto, jogando um Candy Crush e ainda vendo notícias num outro site – e dá uma olhadinha no total de amigos que você tem no seu perfil do Facebook – ou do Twitter, ou do Instagram, ou qualquer outro similar no qual você tenha mais “amigos” reunidos. Agora, divida esse número por 10. Se o resultado for exatamente o número de amigos que você vê com frequência e com os quais marca sempre algum passeio ou uma simples visitinha, parabéns: você faz parte da ínfima parcela da população que possui pelo menos 10% de amigos frequentes nas redes sociais dentro e fora do computador. Se o resultado for muito inferior a isso, meus pêsames: você pode não saber, mas está sendo vítima do lado antissocial das redes sociais.

De todos os amigos que tenho na minha rede mais utilizada, pouco mais de 10% já fizeram parte de minha rede social diária ou quinzenal e hoje deixam saudades pela distância (para estes é maravilhoso ter uma forma de conexão que ultrapasse a barreira da distância, de forma simples e eficaz); e infelizmente, bem menos de 10% são meus amigos mais próximos, que frequentam ou já frequentaram minha casa e que realmente fazem parte do meu círculo social “real”.

“E qual o problema nisso?”, você vai se perguntar. O problema é quando a existência na rede social sobrepuja a vontade e toma o tempo de viver o mundo aqui fora. Pesquisas apontam que o brasileiro passa em média 43 horas semanais na internet – mais de 30% do total de horas semanais. Voltemos outra vez à matemática: suponhamos que você trabalhe pelo menos 8 horas por dia cinco vezes na semana, e que você durma pelo menos 8 horas por noite todos os dias. Você tem 16 horas gastas no seu dia ao todo. Se você somar o que apontam as pesquisas para acessar as redes sociais, você terá uma média de 4 horas diárias de acesso à net e às redes, totalizando 22 horas do seu dia ocupadas. Sobram apenas duas horas diárias pra você cuidar de suas necessidades básicas diárias e quem sabe fazer uma visitinha para aquele seu amigo do peito que você só vê pelo Facebook. Parece brincadeira? Só que não. Se você voltar à primeira conta, perceberá que tem gasto 1/3 ou 30 % da sua semana para dedicar-se à apenas 10% da sua verdadeira rede social - a dos amigos próximos. E o pior: tem gente que usa esse tempo – que não é pequeno – para mostrar nas redes aquilo que não é o real.

Que atire a primeira pedra quem nunca, numa tarde de tédio, “glamourizou” seu status só pra mostrar para os 10% de verdadeiros amigos e para os outros 90% conhecidos o quão interessante e perfeita é sua vida.

Voltando aos cálculos, e resumindo a história toda, o ser humano tem passado um terço de sua vida dedicando-se a contar pequenas mentiras nas redes sociais para pouco menos de 10% dos verdadeiros amigos presentes em seu círculo virtual e real, deixando de lado muitas vezes a real convivência olho no olho com estes para satisfazer a curiosidade e alimentar o círculo vicioso da vida “de mentira” da imensa massa presente nos demais 90% dos integrantes de sua rede de “amigos”.

Então, depois de ler esse texto, vá convidar um amigo pra um café, saia para respirar o ar lá fora, vá a um parque, a um museu, à casa de um parente que não vê há séculos. Ou então faça como eu: vá paulatinamente largando a vida aqui dentro, deixando de lado o vício das redes. Vá substituindo as horas que passa conectado por horas de leitura, de conversa ao telefone, de encontros com os entes queridos. Não se preocupe em ser tão sociável aqui dentro. Porque afinal, esse mundo das redes sociais, no qual vivemos e do qual somos tão dependentes, só faz sentido mesmo se pudermos partilhá-lo com gente de verdade, na vida que acontece aqui fora.

P.S.: vou te dar um conselho – não delete os outros 90%. Ao contrário, se possível, faça-os entrar para sua vida real. Ao final de 10 anos você terá bem mais histórias para contar do que a dos memes da internet!

Sobre a Autora:
Núbia Camilo é professora por formação, cantora por hobby, jornalista freelancer e escritora por paixão. Mas, o que gosta mesmo é de pensar sobre a vida e de uma boa conversa.

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