Quase

É quase como se não fosse...
Que sete e sete são doze, e não catorze
Que cada gesto se transforma numa pose
Que o sabor amargo pode ser o mais doce

É quase como se não fosse...
Que a luz ofusca o dia
Que o sorriso relativiza a alegria
Que a alma aquece o que o corpo esfria

É quase como se não fosse...
Que a lucidez incentiva a loucura
Que choro e espirro não se segura
Que a pior doença também traz a melhor cura

É quase como se não fosse...
Que a ignorância produz o conhecimento
Que a insensatez fortalece o sentimento
Que o silêncio vocifera o lamento

É quase como se não fosse...
Que a saída também é uma entrada
Que a queda também é uma escada
Que a visão é turva quando a língua é afiada

É quase como se não fosse...
Que o prêmio do abstêmio é a embriaguez
Que a sabedoria do boêmio é a estupidez
Que o triunfo do abastado é a mesquinhez

É quase como se não fosse...
Que o beijo pode matar 
Que a dor pode salvar 
Que a proximidade pode afastar

É quase como se não fosse...
Que querer chegar é não ter que ir
Que se encontrar é ter que sumir
Que ruminar exige engolir

É quase como se não fosse...
Que o mundo nem sempre muda
Que a justiça se faz de surda
E a matemática se torna absurda

As somas nos dividem
As divisões nos diminuem
Os diminuídos se multiplicam
Mas é quase como se não fosse!

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