Palavras cafeinadas

O sol matinal banhava a chácara com uma luz que a pintava de tons dourados e suaves. As cortinas brancas estavam semiabertas até a metade, permitindo que os primeiros raios solares entrassem dançando no quarto. O cômodo estava preenchido com o inebriante aroma do café recém-preparado, misturando-se irresistivelmente ao odor de feromônios que pairava no ar.

Sentados lado a lado, os amantes entrelaçavam suas pernas entre os lençóis bagunçados da noite anterior. Os blocos de papel à frente deles, esperavam pacientemente para serem preenchidos com as palavras que descreveriam sua paixão ardente.

Canetas nas mãos, eles se olhavam e sorriam alternadamente relembrando os momentos enquanto transfiguravam as memórias e sensações recentes em letras no papel, perdendo-se em seus brilhos e nas lembranças dos instantes partilhados.

Cada arrepio, cada gota de suor, cada gemido e cada suspiro eram cuidadosamente convertidos em palavras escritas. O café fumegante aquecia suas bocas enquanto eles escreviam, e a temperatura da bebida se confundia com o calor dos seus corpos ainda entrelaçados.

Com as palavras fluindo como a água do riacho que serpenteava os montes próximos à chácara, os dois amantes se deixavam levar pela magia da escrita. Cada palavra era como um beijo trocado, cada frase como uma carícia no corpo do outro. As palavras eram como testemunhas silenciosas no refúgio do casal.

Enquanto escreviam, sentiam que estavam compartilhando não apenas seus momentos, mas suas próprias almas. As letras ganhavam vida, saltando das páginas como se tivessem poderes mágicos. A realidade e a ficção se misturavam de tal maneira que mal conseguiam distingüir onde terminava a história e começava a vida real.

Enquanto redigiam, sabiam que estavam criando algo verdadeiramente especial, algo que seria uma recordação eterna da sua paixão intensa e da sua conexão única.

E quando finalmente terminaram de escrever, repousaram suas canetas e seus blocos de papel ao lado, liberaram suas mãos para segurar firmemente as canecas quentes e se olharam profundamente nos olhos.

O próximo gole na bebida saciaria ambos, da mesma forma que os deixariam ainda mais sedentos um pelo outro.

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